quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Listas individuais Sight and Sound (I): o que dizem os especialistas sobre o cinema português

"Juventude em Marcha" (2006) de Pedro Costa

Acabam de ser tornadas públicas as listas individuais do top dos "especialistas em cinema" (vamos chamar assim todos os críticos, distribuidores, programadores, académicos que responderam ao desafio da Sight and Sound de eleger os melhores filmes de sempre, uma lista que comentei aqui).

Esta base de dados tem muito sumo lá dentro e, por isso, precisarei de alguns dias até a ter digerido convenientemente. Todavia, deixo já aqui as minhas conclusões mais imediatas.

Primeiro, a produção nacional está de parabéns. Três realizadores portugueses viram mais que um dos seus filmes mencionados por especialistas numa lista onde só se inclui a "nata da nata" do cinema mundial. Pedro Costa, com 13 nomeações no total, e Manoel de Oliveira, com 10, são os cineastas portugueses em maior destaque - seguindo-se João César Monteiro.

Segundo, "Juventude em Marcha" é o filme português com mais menções, 7 no total, seguido de "No Quarto da Vanda", 5 no total. "Vale Abraão" é o terceiro filme português mais "votado", contando com um total de 3 votos, a par de "Mistérios de Lisboa" de Raoul Ruiz. Críticos franceses, espanhóis, britânicos e americanos fazem parte do eleitorado especializado que resolveu alinhar o cinema português com os melhores do mundo.

Terceiro, este resultado é um triunfo nacional que deve ser analisado, antes de cinematograficamente, sob uma perspectiva política. Isto porque, afinal, fica de novo provado, e agora diria "em definitivo", a longevidade e alcance de filmes que, por uma razão ou outra, não mereceram a atenção devida internamente, quer do público, quer do poder político, quer mesmo de alguns "colegas de profissão". Fica provado que cineastas como António-Pedro Vasconcelos ou agentes políticos como o actual Secretário de Estado da Cultura estão rotundamente errados quando vêm desmerecer o cinema de autor nacional, com epítetos como "Pedro Costa, o cineasta oficial das Fontainhas" ou asserções ligeiras em torno da reconciliação um, dois, três entre o cinema nacional e o seu público. A eles devia ser dedicada esta lista.

Quarto, o cinema português vive um período de graça lá fora. Em muito mais casos do que se calhar esperaríamos há uns anos, Pedro Costa e Manoel de Oliveira são ou colocados entre os dez maiores cineastas de sempre ou quando não o são a sua ausência é lamentada pelo especialista votante. Pergunto-me se para tal não terão contribuído as recentes edições em DVD de Pedro Costa, por algumas das melhores editoras de filmes do mundo, como a americana Criterion Collection ou a espanhola )intermedio(, ou caseiramente pela própria Midas (com legendas em inglês), como também o lançamento nacional de algumas obras de Oliveira que estavam há demasiado tempo inacessíveis no mercado (inter)nacional.

Estou certo que teríamos mais nomes e títulos nacionais referenciados se outras obras fundamentais da nossa história tivessem o mesmo tratamento, falo de "Acto da Primavera", "Benilde ou a Virgem Mãe" e "Amor de Perdição" (este apenas disponível numa edição de qualidade suspeita, em Espanha) ou, reportando-me a outros grandes cineastas e obras-primas lusas, toda a obra de António Reis e Margarida Cordeiro, o enorme "Verdes Anos" de Paulo Rocha, etc.

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